Afinal, por que a Coreia foi dividida? Uma viagem pela história da Coreia
- Van Borh
- 24 de abr.
- 6 min de leitura

Este é o início da nossa jornada através da história da Coreia. Nesta série de postagens, vou apresentar a vocês uma introdução abrangente sobre a formação histórica da península coreana. Ainda não sei quantas postagens serão, mas, com o tempo, irei elaborando e sempre informando vocês aqui no blog.
O objetivo é oferecer uma perspectiva ampla, abordando os principais acontecimentos políticos, sociais, econômicos e, primordialmente, político-históricos. Sempre que possível, incluirei gráficos e imagens para enriquecer nosso entendimento. Então, vamos lá!
A Formação Histórica da Península Coreana
Para compreendermos a história da Coreia, é essencial remontar à sua formação histórica, que envolve diversos povos e migrações. A península coreana, situada na extremidade leste da Ásia, foi moldada por povos que migraram das estepes asiáticas, trazendo consigo seus valores, culturas e modos de vida baseados na caça e coleta. Esses elementos permeiam profundamente a história coreana.
Geografia da Península Coreana
Antes de tudo, devemos considerar a geografia da península coreana. Localizada aproximadamente na latitude 38° Norte, sua parte sul é separada das ilhas meridionais do arquipélago japonês pelo estreito da Coreia. Ao norte, o rio Yalu (ou Amnok-gang) a separa da região nordeste da China, conhecida como Manchúria.
A península possui uma espinha dorsal formada por uma cordilheira de montanhas, com o Japão ao leste, através do estreito da Coreia, e o Mar Amarelo ao oeste, próximo à península de Shandong. A proximidade com a península de Liaodong e o norte da China, onde Pequim estabeleceu seu centro político imperial por séculos, também é significativa.
Essa localização geográfica influenciou profundamente a história da Coreia, permitindo a entrada de influências chinesas e japonesas. No entanto, é importante notar que a Coreia desenvolveu uma identidade própria e singular. Ao longo dos séculos, os coreanos adaptaram e reinterpretaram influências externas, como o confucionismo e o budismo, criando uma cultura única.
No século XX, isso resultou no desenvolvimento notável da Coreia do Sul, uma das economias mais vibrantes do mundo, e da Coreia do Norte, um regime fechado e unipartidário de inspiração stalinista.
Influências Culturais e Políticas
Ao longo dos séculos, diversos grupos contribuíram para moldar a cultura e identidade da península coreana, incluindo manchurianos, japoneses, chineses e comerciantes de várias partes do leste e sudeste da Ásia. Essas influências se consolidaram em composições políticas, clãs, pequenos reinos e até pretensões imperiais que se estendiam além da península.
Uma das dinastias mais recentes e duradouras foi estabelecida após as invasões mongóis do século XIII. No século XIX, a Coreia enfrentou agressões imperialistas. Durante a dinastia Joseon, o país se fechou, primeiro devido a desavenças com a dinastia Qing, que ascendeu na China no século XVII, e também com o fechamento dos portos japoneses. Em 1910, a Coreia tornou-se protetorado japonês, marcando um período de dominação estrangeira.
A última grande tragédia foi a Guerra da Coreia (1950-1953), que dividiu o país em duas partes. Geograficamente, a Coreia é cercada por mares em três lados, o que facilitou a entrada de estrangeiros e ideias. Por esses caminhos marítimos, ocorreram fluxos migratórios, trocas culturais e comerciais, principalmente vindos do oeste para a península coreana.
Conflitos e Alianças Históricas
A história da Coreia é marcada por migrações, confrontos e trocas culturais. Houve projeções de coreanos para fora da península, com estudiosos coreanos estudando nas cortes chinesas e tornando-se funcionários educados nas academias confucianas.
Em termos físicos, a península coreana é marcada por uma cadeia de montanhas que se estende do norte ao sul, conhecida como cordilheira de Baekdu. Essa cordilheira é considerada a espinha dorsal da península, com cerca de 70% de seu território sendo montanhoso.
As terras baixas prevalecem na região ocidental, onde se encontram as principais cidades ao longo dos rios mais navegáveis, como o rio Han. De acordo com mitos coreanos, a montanha Baekdu é o local de origem do fundador dos coreanos, Dangun.
Clima e Agricultura
Os rios da península coreana correm predominantemente do leste para o oeste. O clima é definido por sua situação peninsular, estando aberto aos ventos dos mares. O arquipélago japonês protege a região leste de maiores tempestades vindas do Pacífico. No entanto, a Coreia ainda é afetada por monções, que chegam do norte vindas do leste asiático.
O verão é geralmente quente e úmido, enquanto o inverno é seco e frio. Durante o inverno, os ventos predominantes vêm do noroeste, da massa continental siberiana, reduzindo a temperatura e umidade. No verão, as monções trazem chuvas, com 70% das precipitações ocorrendo entre junho e setembro. O clima de monções permitiu o desenvolvimento do cultivo de arroz desde o século VIII nas regiões de planície, sendo fundamental para o florescimento das comunidades coreanas.
As chuvas em abril e maio marcam o calendário agrícola dos arrozais. No verão, o arroz cresce, e nos meses seguintes, setembro e outubro, o clima seco e frio predomina, tornando imperativa a colheita e armazenagem. No final do ano, o inverno domina toda a península.
Origens Étnicas e Linguísticas
Em termos étnicos e linguísticos, os coreanos resultam de migrações provenientes das vastidões siberianas, de povos geralmente altaicos. A principal evidência dessas origens não vem de fontes chinesas, mas da família de línguas altaicas, compartilhando raízes com turcomanos, mongóis, russos, manchus e japoneses.
Essa origem linguística é distinta da chinesa. Outras evidências apontam para mitos e símbolos, como totens de ursos e tigres, que remetem a práticas siberianas de xamanismo, atribuindo valor simbólico a objetos usados em rituais, como espadas e espelhos.
Xamanismo e Simbolismo na Tradição Coreana
Essas práticas xamanistas fazem parte do que hoje chamamos de cultura tradicional coreana, ainda presentes em muitos rituais, como casamentos e celebrações familiares, mesmo que de forma simbólica. A história da Coreia não se dissocia dessas tradições ancestrais que sobrevivem ao tempo e às transformações sociais.
A Organização Inicial da Sociedade Coreana
A sociedade coreana começou a se estruturar como uma comunidade agrária e sedentária. A agricultura tornou-se a principal fonte de sobrevivência, especialmente com o cultivo do arroz nas planícies do oeste e sul. A formação de vilas e agrupamentos populacionais resultou na constituição de comunidades politicamente organizadas, com estruturas que envolviam liderança, clãs e, eventualmente, reinos.
Os Três Reinos da Coreia
Na história da Coreia, um dos períodos mais importantes é o da formação dos Três Reinos: Goguryeo, Baekje e Silla, entre os séculos I a.C. e VII d.C. Esses reinos coexistiram, competiram e influenciaram uns aos outros, até que o reino de Silla, com o apoio da dinastia Tang da China, unificou a maior parte da península coreana no século VII. Esse período é fundamental para compreendermos a estrutura política e social que moldaria os séculos seguintes.
A Herança Cultural e Histórica da Dinastia Joseon
A dinastia Joseon, estabelecida em 1392 e durando até 1910, é um dos períodos mais emblemáticos da história da Coreia. Durante esse tempo, o Confucionismo se tornou a ideologia dominante, moldando não só a política e a educação, mas também a vida cotidiana dos coreanos. Foi sob essa dinastia que o Rei Sejong, o Grande, criou o Hangul, o alfabeto coreano, em 1443 — um dos momentos mais marcantes da história da Coreia em termos de identidade cultural e soberania linguística.
A Ocupação Japonesa e o Século XX
No século XX, a história da Coreia foi profundamente abalada pela ocupação japonesa (1910–1945), um período de opressão e tentativa de apagamento cultural. Durante essa ocupação, houve forte repressão à língua, aos costumes e às manifestações culturais coreanas. Muitos coreanos foram forçados a trabalhar para o império japonês, e a resistência interna cresceu, com movimentos de independência se espalhando pela península.
A Guerra da Coreia e a Divisão do País
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Coreia foi dividida em duas zonas de ocupação — ao norte, sob influência soviética, e ao sul, sob influência americana. Essa divisão culminou na Guerra da Coreia (1950–1953), que devastou o país e resultou na separação definitiva entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, uma divisão que persiste até hoje. Este evento marca um dos capítulos mais dolorosos da história da Coreia, cujas consequências políticas, sociais e humanas ainda se fazem sentir.
A História da Coreia no Século XXI
Atualmente, a história da Coreia continua a se desdobrar diante dos nossos olhos. A Coreia do Sul desponta como uma potência tecnológica, cultural e econômica, sendo um exemplo de superação e reinvenção. Já a Coreia do Norte segue isolada, governada por um regime autoritário e fechado, com uma realidade bastante distinta de seu vizinho do sul.
Mesmo com suas diferenças, as duas Coreias compartilham raízes profundas, culturais e históricas, e muitos coreanos ainda sonham com a reunificação. Entender a história da Coreia é, portanto, mais do que revisitar fatos do passado — é compreender os caminhos trilhados por um povo resiliente, forte e profundamente conectado à sua terra e suas tradições.
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